• Barbara Bigarelli
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A energia na era digital (Foto: Foto: ThinkStock)

(Foto: Foto: ThinkStock)

O americano John Rethans, VP de transformação digital do Google, recorre até ao famoso quadro "O Grito", de Edvard Munch, para ilustrar como as empresas estão assustadas por não saberem como se conectar à nova era digital. "Todo mundo está ciente de que precisa realizar uma transformação digital, prega mudanças, mas internamente todos se olham como no quadro de Munch e dizem: ok, precisamos mudar, mas como devemos fazer isso?", disse Rethans, em palestra realizada no Innovators Summit, em São Paulo.

A dificuldade em implementar uma estratégia que permita às empresas se conectarem com as novas demandas dos consumidores e serem verdadeiramente digitais persiste por vários motivos. Primordialmente, defende Rethans,  a mentalidade de gestão corporativa que impera em grande parte do mundo funciona em moldes antigos, baseada em uma economia que liga a produção com a cadeia de fornecedores para um serviço final. "É uma mentalidade que ainda reage como se a empresa estivesse dentro de um tubo. Tudo é feito de forma linear e da mesma forma que há três décadas", diz. Na prática, o modelo definido por ele como "pipe" incentiva a criação de silos na empresa, que trabalham de forma separada, cada um cumprindo seu papel de modo a atingir um objetivo em comum. Cada desvio nesse aspecto é considerado um erro ou fracasso. "É quando vemos que o setor de marketing, por exemplo, não conversa com o pessoal da TI", diz. 

Esse modelo "pipe" é desenhado para não sofrer grandes transformações, afirma o executivo. É por esta razão que, a despeito da consciência da necessidade de ser tornar digital, muitas empresas não conseguem, de fato, atingir o sucesso na nova era. "Não adianta criar um centro de inovação separado e controlado para que as novas ideias sejam ali testadas, se a organização toda do lado de fora da sala pensa nos moldes antigos", diz Rethans. Essa "salinha de vidro" isolada, como define, só diminui as chances de inovação. "Todo mundo fica na zona de conforto porque sabe que é ali [no centro de inovação] que poderão ocorrer falhas e fracassos". 

Outro erro que esse "modelo pipe" gera é demandar muito dinheiro para a infraestrutura tecnológica, como a criação de plataformas, sistema de computação em nuvem, big data, aprendizado em máquina, entre outros. A tecnologia por si só não resolve nada sozinha. "Por exemplo, um CEO ouve de um conselheiro ou de um consultor que precisa fazer a mudança digital já. Ele liga para o time de tecnologia e diz vamos criar um aplicativo global", afirma. "Não vai funcionar, vai custar caro, vai demorar meses. E ele estará confundindo executar com transformar-se de fato". 

Para que haja uma transformação que aumente as chances de a empresa sobreviver e ter futuro, Rethans afirma que ela precisa passar do "modelo pipe" para o "modelo de plataforma". É necessário abrir os silos, construir um modelo de gestão em que os funcionários conversem entre si e a inovação possa ser uma soma do trabalho de várias áreas. É o marketing usando a TI para criar um serviço financeiro novo, por exemplo.

Neste modelo de integração interna, a empresa ganha ferramentas para olhar para além de seu negócio central, criando produtos e serviços para as demandas dos consumidores que forem surgindo. É por isso que a Amazon não vende só livros ou que o Facebook está olhando para meio de pagamentos. As duas empresas estão entre as mais valiosas do mundo e funcionam de acordo com o modelo de plataforma. 

Rethans também cita o caso de transformação da empresa brasileira Magazine Luiza, uma das 400 empresas com quem desenvolveu projetos. "Eles criaram vários ecossistemas dentro da empresa (lojas, logística, mobile, serviços financeiros) e transformaram cada um em uma oportunidade de negócio. Tudo na nuvem", diz. Os pontos físicos passaram a ser um desses ecossistemas — e não mais o sistema central onde, por décadas, tudo girava em torno. 

Para que esse fluxo de ideias dentro da organização gire em vários sentidos, é preciso investir para além dos desenvolvedores. É necessário ter talentos em todos os departamentos, afirma Rethans. Para ele, não existe transformação digital sem mudança cultural. "É algo que precisa, sim, vir de cima para baixo, com os líderes abrindo espaços para que essas mudanças ocorram em toda a empresa e não apenas em um centro de inovação isolado".

A beleza de seguir o modelo de plataforma, diz o executivo, é que tudo pode ganhar dimensões gigantescas a partir de um esforço concentrado. "Você pode atingir bilhões de pessoas, com apenas um time de centenas de engenheiros". Você pode criar uma infinidade de negócios, desde que faça sentido para o próposito da marca.

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