Ministro ataca protecionismo da Índia na casa do anfitrião, por J. Carlos de Assis

Movimento Brasil Agora

Ministro ataca protecionismo da Índia na casa do anfitrião

por J. Carlos de Assis

Nesse espetáculo de picadeiro que foi a visita de Temer ao Oriente, nada se revelou mais patético do que o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil, Marcos Pereira, esculhambar publicamente, para dezenas de jornalistas, a política de proteção industrial da Índia. Segundo o ministro, que deve entender mais de sânscrito do que de comércio exterior, a Índia é excessivamente protecionista e deve abrir o seu mercado.

Tanta estupidez nos tira do sério. O ministro, que, ao contrário de seus congêneres da Índia está no cargo porque embarcou num golpe sem necessidade de voto, se acha no direito de dar conselhos de política industrial a uma nação várias vezes milenar, com nada menos do que 1,2 bilhão de habitantes, e que tem que dar conta de empregos de qualidade para seus milhares de cidadãos. Não é à toa que a Índia cresce à maior taxa de expansão do mundo, espantosamente dentro de uma democracia exemplar.

Se o ministro fosse alfabetizado em política industrial, e não uma espécie de fâmulo das agências multilaterais de crédito, como FMI e Banco Mundial- que querem “abrir” os países em desenvolvimento a qualquer custo para atender ás ordens de Washington -, saberia que o mantra da liberação atende exclusivamente aos interesses das nações mais avançados, que tem um diferencial tecnológico em relação às demais. Para um país em desenvolvimento, abrir significa matar a indústria nascente e retroagir à condição de primário-exportador.

Estamos caminhando para isso, de fato. Os oportunistas  que ameaçavam tomar conta da política comercial externa brasileira já no tempo de Dilma flertavam com os neoliberais, e não há muito segredo que José Serra vai agora pelo mesmo caminho. Por um triz, contra a opinião de Palocci, e graças aos esforços de Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães, o presidente Lula derrotou a ALCA, algo que lhe deve ter custado grande antipatia das classes dominantes associadas  à chamada comunidade financeira internacional.

Os livros do coreano Chang e do argentino Gullo, tratando do liberalismo econômico na perspectiva mundial e latino-americana, deixam muito claro que os países hoje ricos, quando estavam na fase de desenvolvimento, eram invariavelmente protecionistas. E todos eles, sem exceção, quando se tornaram desenvolvidos, viraram livre-cambistas. Isso qualquer economista que não seja capacho das agências multilaterais e de seu patrão norte-americano sabe perfeitamente. Claro, este não é o caso de um ministro que chegou ao poder não pela teoria econômica mas na carona de um golpe branco.

Não fosse pela falta de especialização técnica, o ministro Marcos Pereira ainda assim é muito mal educado porque não tem o direito de, em nome do Brasil, criticar publicamente a política de outra nação. Mesmo que tivesse razão. Se o Brasil fosse uma potência imperial, como os Estados Unidos, justificava-se uma pressão de bastidores pela abertura comercial da Índia. Isso, aliás, acontece sempre, encontrando porém a resistência inabalável dos indianos que não querem ver destruído pela concorrência dos ricos seu parque industrial.

É isso que dá a apropriação do poder por uma elite despreparada. Temos um ministro da indústria que nada entende de indústria, e um ministro de Relações Exteriores bronco, igualmente despreparado, tonto no meio dos problemas internacionais que cercam o Brasil da atualidade. Nesse contexto, só nos resta ter paciência e buscar estrategicamente uma alternativa para 2018. É essa a missão do Movimento Brasil Agora. Se soubermos limpar as cavalariças do rei nos três poderes da República, poderemos reconstituir as instituições hoje derretidas e retomar o desenvolvimento do país.

J. Carlos de Assis – Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política brasileira.

Redação

14 Comentários

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  1. E o temer levou uma bronca no japão

    No Japão o primeiro ministro citou a destruição da industria naval pela lava jato e com enorme prejuiso para empresas locais e mandou o temer plantar coquinhos e dar o fora.

    Só oivestirão aqui quando os contratos não forem destruidos como pela nossa lava jato.

     

  2. Fiasco

    No Japão, Temer levou um esporro, a portas fechadas, do primeiro-ministro: a Lava Jato Lava Jato paralisou inúmeros projetos e obras de infraestrutura que os japoneses desenvolviam em parceria com empreiteiras brasileiras.

    Temer vai de ‘pires na mão’ ao Japão e leva fora do primeiro-ministro Shinzo Abe

    http://linkis.com/www.ocafezinho.com/2/PE6d7

    Um dos piores flagelos da humanidade é o incompetente com iniciativa.

  3. Especialista em sânscrito?

    Especialista em sânscrito? Caramba… vamos arranjar metáforas melhores para esculhambar (merecidamente) o desministro.

    1. jj

      Devia ser obrigado a beber mijo de vaca e a se banhar no cristalino Ganges.Depois do BRICS do zé serra incluindo  a Argentina

      nada mais a duvidar dessa corriola usurpadora do mishell (Putin negou-lhe a mão pra foto oficial na India).

  4. Ele faria o mesmo numa

    Ele faria o mesmo numa reunião de produtores de algodão dos EUA, cujo protecionismo foi questionado por Lula na OMC?

    É claro que não.

    O protecionismo norte-americano é tão bonzinho…

    Tão bonzinho que protege até o entreguismo do pré-sal promovido pelo (des)governo Temer.

    Questões de alta indagação levantadas pela atuação de Marcos Pereira na Índia.

    Quando este nóia recebeu da Embaixada dos EUA para esfarelar os BRICS na Índia?

    Ele recebeu em dolar ou em euro?

  5. naõ devemos esperar

    naõ devemos esperar 2018.

    temer deve sair com todos seus notáveis-cheios-da-nota ainda este ano.

    sem crime, não pode haver impecheamement.

    se o proprio juiz q “acompanhou” o processo assume q foi um tropeço. ele deve corrigir e levantar a senhora q foi ao chão – a republica federativa do braisl – uma democracia representativa de bem estar social.

    E q faça de forma elegante e respeitosa. nada mais será legal. nada mais é possível.

    e aÊ, dr. lewadinho? bora?!

  6. Eu fico pasmo como a maioria

    Eu fico pasmo como a maioria dos ‘analistas’ acham que é correto que a lava jato destruam as empreiteiras. E falam que se quebrarem, não tem problema = chamem empreteiras estrangeiras pra tomar o lugar. Simples assim. E o desemprego que isso gera e vai gerar mais, bem, fazer o quê? Pra essa gente, esse é o preço pro Brasil se “purificar”. Aí você vê nos EUA o caso da Enron, do setor elétrico, na era Bush, republicano, e o caso da GM, na Era Obama, democrata. País sério tem é pragmático – e não ideológico. Isso eles deixam pra países como o Brasil.  Pra essa corja, JK mereceu o fim melancólico que teve = castigo merecido por um presidente-estadista que ousou a fazer do Brasil um país industrial, num período em que boa parte da nossa ‘elite’ achava que o país tinha que se contentar em ser um exportador de comida e só. 

  7. mensageiro do apocalipse…

    Devido a sua genética paranóica de anunciador do fim dos mundos,  este alienado de pai-e-mãe deveria na verdade, ser nomeado “ministro de evangelização dos povos exteriores”: tipo hindus, muculmanos, budistas, xintoistas  e  todo tipo de ser que profece outro Deus  que não o  deles !!

  8. Vergonha

    Uma colunista social publicou qu sentiria vergonha do presidente eleito em 2002 nas viagens internacionais , bem ate agora os golpistas estao dando de tres vergonhas a zero isso quanto nao fazem mais de uma no mesmo evento .

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