Brazilian president Michel Temer talks to the press after a meeting in New York with US investors, organized by the Council of the Americas on September 21, 2016. / AFP / Leila MACOR        (Photo credit should read LEILA MACOR/AFP/Getty Images)

Michel Temer diz que impeachment aconteceu porque Dilma rejeitou 'Ponte para o futuro'

Em palestra para empresários nos EUA, Temer declarou que Brasil passa por “estabilidade política extraordinária” ao defender implementação de agenda neoliberal.

Brazilian president Michel Temer talks to the press after a meeting in New York with US investors, organized by the Council of the Americas on September 21, 2016. / AFP / Leila MACOR        (Photo credit should read LEILA MACOR/AFP/Getty Images)

O presidente Michel Temer deixou escapar um “segredo” em discurso para empresários e investidores nos EUA: o impeachment de Dilma Rousseff ocorreu para implementar um plano de governo radicalmente diferente do que foi votado nas urnas em 2014, quando o PT ganhou a presidência pela quarta vez, e não por irregularidades praticadas pela ex-presidente.

Na sede da Sociedade Americana/Conselho das Américas (AS/COA), em Nova York, nesta quarta-feira, dia 21, Temer disse que ele e seu partido começaram a articular o afastamento de Rousseff em consequência direta da não aceitação do programa neoliberal do PMDB pela ex-presidente.

Veja o vídeo aqui:

“E há muitíssimos meses atrás, eu ainda vice-presidente, lançamos um documento chamado ‘Uma Ponte Para o Futuro’, porque nós verificávamos que seria impossível o governo continuar naquele rumo. E até sugerimos ao governo que adotasse as teses que nós apontávamos naquele documento chamado ‘Ponte para o futuro’. E, como isso não deu certo, não houve adoção, instaurou-se um processo que culminou agora com a minha efetivação como presidência da república.”

O “Ponte para o futuro” prescreve a desvinculação dos recursos da saúde e da educação, desindexação dos benefícios e do salário mínimo, mudança de idade para a aposentadoria, parcerias com o setor privado e abertura comercial. Essas ideias estavam claramente refletidas na fala de Temer na AS/COA, que visava dar seguimento à incansável empreitada de privatizações e facilitação da entrada do capital estrangeiro no país, listando as vantagens e garantias que seu governo planeja implementar para assegurar o lucro dos membros da plateia, que o ouviam (não tão atentamente) enquanto desfrutavam de suas refeições.

Marcadas pelos já conhecidos eufemismos neoliberais para o que poderia simplesmente chamar de venda do patrimônio nacional, as garantias listadas pelo presidente incluíram a “universalização do mercado brasileiro”, o “restabelecimento da confiança”, uma tal “estabilidade política extraordinária”, parcerias entre os setores público e privado e o avanço de reformas “fundamentais” nas áreas trabalhista, previdenciária e de gastos do governo. “Venho aqui convidá-los a participar dessa nova fase de crescimento do país,” concluiu em tom de leilão.

Os dois grupos são compostos por representantes de corporações multinacionais e membros do estabelecimento de política exterior dos EUA em América Latina. Foram fundados pelo industrialista americano David Rockefeller e têm John Negroponte como presidente emérito – um político neoconservador fundamental para a guerra suja da CIA em Honduras e para a invasão do Iraque em 2003. Em seu site, o Conselho das Américas se define como uma “organização internacional cujos membros compartilham um compromisso comum com o desenvolvimento econômico e social, mercados abertos, estado democrático de direito e democracia por todo o hemisfério ocidental”.

Essa é apenas mais uma singela confirmação de que o impeachment de Dilma não se deu por conta das supostas “pedaladas fiscais”, como quis fazer crer a facção que agora ocupa o executivo federal. Não foi pela família brasileira, não foi por Deus, não foi contra a corrupção. Foi contra o trabalhador e em favor do empresariado. Foi por impunidade, lucro e poder.

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