Política

Reunião de tucanos com Temer sela maior participação do PSDB no governo

Ficou acertado que Aloysio Nunes vai trabalhar na criação de políticas e reformas
O sendor pelo PSDB de São Paulo, Aloysio Nunes Foto: Michel Filho / Agência O Globo
O sendor pelo PSDB de São Paulo, Aloysio Nunes Foto: Michel Filho / Agência O Globo

BRASÍLIA — Para atender as reclamações de maior participação do PSDB no núcleo de decisões do governo Temer, ficou acertado que o líder do governo, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), vai ser chamado a participar de núcleos de trabalho criados para formulação de políticas e reformas. O ministro Moreira Franco sugeriu e foi acatado que o presidente interino Michel Temer se reúna com grupos de 50 a 60 deputados, mostrando o que acontecerá ao país se determinadas medidas amargas não forem aprovadas.

Nas quase quatro horas de conversa para repactuação da participação do PSDB na coligação do governo de transição , o presidente interino fez um balanço das concessões que disse ter sido obrigado a fazer na fase pré-impeachment e o que fará após o afastamento definitivo da presidente afastada Dilma Rousseff. Foi uma conversa franca em que os dirigentes do PSDB manifestaram apoio ao ministro da Fazenda Henrique Meirelles, mas avisaram: que ele cuide da economia e deixe a política para o núcleo político. Os tucanos cobraram pulso firme de Temer para implementar as reformas e as medidas de ajuste, sem concessões vistas como populistas.

— O Brasil está numa bifurcação. Tem o caminho mais fácil, da gastança e das concessões as corporações que nos levará ao abismo, ou o caminho mais tortuoso e mais difícil, das reformas estruturantes para coibir o aumento do endividamento, que nos levará à saída do abismo — disse, na conversa, o líder Cássio Cunha Lima.

— Ou se faz esse ajuste para conter o endividamento agora, ou em 2025 100% do orçamento da União será para pagar dívida, previdência e folha de pagamento — concordou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Além do presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), Cássio, Aloysio e Tasso Jereissatti (PSDB-CE), participaram do jantar o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA) e o senador Ricardo Ferraço (ES). Na saída, Aécio deixou claro que os desentendimentos ficaram para trás.

— Vai haver um realinhamento e uma convergência claros do PSDB com o governo — disse Aécio.

Nas últimas semanas o clima entre tucanos e governo azedou por conta de concessões vistas como eleitoreiras por parte de Meirelles e o desconforto foi manifestado por Aécio Neves, que pediu a Temer que retomasse o comando de seu “time”. Na conversa considerada de “altíssimo nível”, coube ao senador Tasso enquadrar Meirelles.

— O ministro Meirelles tem todo nosso apoio e simpatia. Mas deixa o Meirelles cuidando da economia e deixa o núcleo político cuidando da política, sem deixar 2018 contaminar o ajuste que tem que ser feito — cobrou Tasso.

Em contagem regressiva, Temer disse que o pronunciamento à nação no dia 07 de setembro, quando voltar da reunião do G20 na China, terá três eixos: a situação que encontrou o país, o que conseguiu fazer nesse período de interinidade pré-impeachment, e o que pretende fazer nos dois anos e quatro meses de governo efetivo. Ele fará um apelo ao apoio da sociedade para as medidas “amargas” que terá que fazer. O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) argumentou, na conversa, que a população terá que entender que “amargo mesmo é o desemprego”.

No balanço, Temer disse que conseguiu fazer muita coisa nesses primeiros 100 dias, montar o governo em sete dias e a maior preocupação é votar a PEC do ajuste fiscal. Falou também das concessões que teve que fazer para manter a governabilidade.

— Nesse período o mais difícil foram as concessões. Mas os reajustes de salários foram negociados e deixados em documento no governo Dilma, não foi uma coisa só verbal. Se eu descumprisse eu não estaria aqui hoje, as corporações parariam o país — disse Temer.