16/08/2016 17h26 - Atualizado em 16/08/2016 19h44

Chanceler uruguaio faz acusação a José Serra; Itamaraty reage em nota

Ele disse que ministro teria tentado 'comprar' voto uruguaio no Mercosul.
Embaixador do Uruguai em Brasília foi convocado a dar explicações.

Do G1, em Brasília *

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil divulgou nota nesta terça-feira (16) na qual manifestou "descontentamento" com as declarações do chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, que teria dito a deputados uruguaios que o ministro José Serra tentou "comprar" o voto do Uruguai no imbróglio que envolve a presidência da Venezuela no Mercosul.

Na nota, o Itamaraty afirma que o governo brasileiro, por meio do secretário-geral das Relações Exteriores, Marcos Bezerra Abbott Galvão, convocou o embaixador do Uruguai no Brasil, Carlos Daniel Amorín-Tenconi, a dar explicações sobre o episódio.

De acordo com o jornal uruguaio 'El Pais', Novoa afirmou, em audiência na Câmara dos Deputados do país vizinho, que o governo do Brasil ofereceu acordos comerciais com o Uruguai em troca de seu apoio no impasse sobre a presidência do Mercosul.

A conversa entre Serra e Novoa teria ocorrido quando o chanceler brasileiro visitou o Uruguai, em 5 de julho, de acordo com a reportagem.

"Não gostamos muito que o chanceler [José] Serra tenha vindo ao Uruguai nos dizer – ele fez isso publicamente, por isso digo – que pretendiam suspender a passagem [da presidência do Mercosul para a Venezuela] e que, se ela fosse realmente suspensa, nos apoiariam em suas negociações com outros países, como se estivesse tentando comprar o voto do Uruguai", disse Nin Novoa aos deputados uruguaios.

A Venezuela deveria assumir, neste semestre, o comando do bloco, mas Brasil, Paraguai e Argentina se opõem à medida, diante do cenário de crise política e econômica no país. O Uruguai, no entanto, se mostrou disposto a entregar o comando do bloco aos venezuelanos.

De acordo com Novoa, informou o "El Pais", o presidente uruguaio, Tabaré Vazques, teria ficado irritado com a oferta de Serra e dito que o Uruguais iria cumprir com a regra de rotatividade entre os presidentes do Mercosul e que passaria o cargo ao colega venezuelano, Nicolás Maduro.

"O Governo brasileiro recebeu com profundo descontentamento e surpresa as declarações do Chanceler Nin Novoa. [...] O teor das declarações não é compatível com a excelência das relações entre o Brasil e o Uruguai", diz a nota, divulgada na tarde de hoje.

A convocação de um embaixador estrangeiro, no jargão diplomático, é sinal de irritação e crítica à atitude de outro país.

"O Secretário-Geral das Relações Exteriores convocou hoje o Embaixador do Uruguai em Brasília para uma reunião em que expressou o profundo descontentamento do Brasil com as declarações e solicitou esclarecimentos", conclui o ministério na nota.

Após a divulgação da nota, o líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), protocolou um requerimento para convocar Serra a dar explicações "pessoalmente" sobre a acusação do chanceler uruguaio. O documento ainda não foi votado pelos deputados.

Nota
Veja a nota divulgada pelo Itamaraty nesta terça:

Ministério das Relações Exteriores
Assessoria de Imprensa do Gabinete

Nota nº 299
16 de agosto de 2016

Declarações do chanceler uruguaio

O Governo brasileiro tem buscado, de maneira construtiva, uma solução para o impasse em torno da Presidência Pro Tempore do Mercosul. A visita do Ministro José Serra ao Uruguai, no último dia 5 de julho, realizou-se com esse propósito. Ao Brasil interessa um Mercosul fortalecido e atuante, com uma Presidência Pro Tempore que tenha cumprido os requisitos jurídicos mínimos para o seu exercício e que seja capaz de liderar o processo de aprofundamento e modernização da integração.

Durante a visita ao Uruguai, o Ministro José Serra também tratou com o Presidente Tabaré Vázquez e com o Chanceler Nin Novoa do potencial de aprofundamento das relações entre o Brasil e o Uruguai e de oportunidades que os dois países podem e devem explorar conjuntamente em terceiros mercados. O Brasil considera o Uruguai um parceiro estratégico.

Nesse contexto, o Governo brasileiro recebeu com profundo descontentamento e surpresa as declarações do Chanceler Nin Novoa sobre a visita do Ministro José Serra ao Uruguai, que teriam sido feitas durante audiência da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara de Deputados uruguaia, no último dia 10 de agosto. O teor das declarações não é compatível com a excelência das relações entre o Brasil e o Uruguai.

O Secretário-Geral das Relações Exteriores convocou hoje o Embaixador do Uruguai em Brasília para uma reunião em que expressou o profundo descontentamento do Brasil com as declarações e solicitou esclarecimentos.

* Colaborou Flávia Foreque, da TV Globo, em Brasília

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