10/10/2015 12h21 - Atualizado em 10/10/2015 20h17

PM vai aumentar tempo de treinamento de agentes de UPPs

Curso passará de 7 para 10 meses.
Pesquisa evidenciou descontentamento com preparação.

Do G1 Rio

A PM do Rio anunciou mudanças na formação de policiais militares. Como mostrou o RJTV deste sábado (10), o curso de formação passará de sete para dez meses. As mudanças acontecem  após uma pesquisa apontar o descontentamento de agentes e moradores com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Um dos pontos citados pelos agentes foi a falta de preparação. Segundo a PM, no entanto, as mudanças já estavam previstas, independentemente da pesquisa

Ao fim deste período, os policiais vão fazer um estágio de dois meses em batalhões e UPPs. Haverá disciplinas como "Polícia de proximidade" ou "Mediação de conflitos". Além disso, o uso de arma de fogo será revisto. 

"Todo treinameno com arma de fogo ele precisa de aperfeiçoamento, precisa de repetição, de aprimoramento e é isso que a Policia Militar se propoe a fazer com a revisão curricular: fazer da arma de fogo um processo que nos denominamos uso progressivo da força. Então, é colocar na cabeça do policial que ele precisa passar por fases anteriores ao uso da força. As decisões, cada decisão tem, que ser pensada, comedida para no limite usar a arma de fogo", afirmou o subsecretário de Educação e Valorização Profissional da Secretaria de Segurança, Pehkx Jones.

O telejornal também mostrou relatos de PMs, que preferiram não se identificar, que mostram o clima de tensão que acompanha agentes de algumas UPPs do estado. "O policial hoje em dia na UPP ele trabalha com uma rotina estressante. Ele se depara com moradores que são contra, com traficantes que ainda estao ali no local, ele fica com medo hoje em dia", disse um dos agentes.

Já a cientista social Silvia Ramos afirmou que tem se observado a diminuição de práticas que estreitava o contato dos PMs com os moradores. "Se o policial da upp passa ele próprio a exercer o papel do policial que vai pro confronto com muita frequência, ele perdeu o papel dele de UPP e passou a ser o papel convencional do policial do batalhão e ate às vezes do policial do BOPE, que entra atirando", observa. Ela acrescenta, porém, que ainda acredita no projeto, desde que ele seja retomado com mudanças.

Pesquisa durou 3 anos

Quando anunciou a expulsão de PMs suspeitos de forjar a cena de um crime no pacificado Morro da Providência, José Mariano Beltrame admitiu que o episódio poderia abalar a imagem das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs). Para o secretário de Segurança Pública, no entanto, prevaleceria a imagem dos bons policiais, e não as exceções violentas ou corruptas. Não é o que mostra pesquisa realizada entre 2010 e 2014 pela Universidade Cândido Mendes sobre as UPPs, onde PMs percebem a descrença de moradores e revelam a própria insatisfação com o andamento do projeto.

O sentimento negativo da comunidade em relação aos policiais das unidades impera para 60,1% dos mais de dois mil policiais entrevistados. O salto desta impressão negativa nestes quatro anos é de quase 32 pontos percentuais.

O descontentamento é ainda mais evidente para os 66% que, no ano passado,  tinham sido xingados por moradores ou para aqueles que sentiram na pele: os 56% que foram alvos de objetos arremessados por moradores.

Realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), a terceira fase do projeto "UPPs: o que pensam os policiais" recebeu a coordenação de Barbara Musumeci Mourão, Leonarda Musumeci e Silvia Ramos. Foram ouvidos 2 mil policiais de 36 UPPs (1.896 soldados e 106 cabos), numa amostra que representaria o conjunto das UPPs e tem margem de erro de 4%.

Morador grava PMs forjando cena do crime no Morro da Providência (Foto: Reprodução / TV Globo)Morador grava PM forjando cena do crime no Morro
da Providência (Foto: Reprodução / TV Globo)

O baque na relação morador-policial pode ter várias causas, para as quais a pesquisa tenta apontar. O medo aumentou para os agentes — 42,4% deles se sentem inseguros ou muito inseguros em seu trabalho. O distanciamento da prometida polícia de proximidade, na qual prevaleceria a conciliação de problemas em vez da adoção de medidas bélicas, também pode ser um problema. Se apenas 5,3% dos policiais tiveram reuniões com moradores, 56,4% já fizeram abordagens.  Sem contar que a maioria dos agentes se queixa das condições de trabalho e da formação: 51,7%.

Há ainda um fator (às vezes até fora da comunidade em questão) que acaba estremecendo a relação, na opinião das pesquisadoras. Cenas como a flagrada no Morro da Providência, de PMs forjando o confronto com um rapaz já morto, acabam sensibilizando toda a população. "Como é que aqueles policiais [de UPPs] aprenderam isto, se tiveram outra preparação? A gente vê que há uma contaminação do que há de pior da polícia convencional", opina a coordenadora da pesquisa Silvia Ramos. E isto, segundo ela, provoca um desânimo generalizado. "Más notícias contaminam", diz.

Política de proximidade
"Menina dos olhos" da política de proximidade, a ronda a pé pela comunidade vem sendo trocada pelo Grupamento Tático de Política de Proximidade. Para as especialistas, o grupamento conhecido pela sigla GTPP ou pelo apelido "bonde" (nas favelas), acaba atuando como um "miniBope" (Batalhão de Operações Especiais). Abordagens e confrontos dentro da comunidade acabam sendo mais comuns, tornando o grupamento o maior alvo de desaprovação.

A "lógica do batalhão comum", que preocupa as especialistas, parece chegar às comunidades. Um dos poucos números que aumenta na pesquisa é o de policiais que se dizem "encaixados" no perfil das UPPs. As pesquisadoras Silvia, Leonarda e Barbara, coordenadoras da pesquisa, se perguntam: será que eles se sentem familiarizados lá por que a UPP mudou e ficou mais parecida com os batalhões comuns?

GNews - UPP da Rocinha (Foto: GloboNews)Ajudante de pedreiro Amarildo de Souza teria morrido em contêiner da UPP Rocinha (Foto: GloboNews)

 

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