
Mônica Salmaso lançou-se na música gravando uma dúzia de raridades da dupla Vinicius de Moraes e Baden Powell, no disco Afro Sambas (1995). Quase 20 anos depois, ela repete o trabalho de arqueologia com outra dupla igualmente genial em seu 10º disco, o recém-lançado Corpo de Baile.
Os escolhidos desta vez foram Guinga e Paulo César Pinheiro, compositores do primeiro escalão da MPB que, nos anos 1990, romperam uma prolífica parceria. A briga acabou relegando às sombras pelo menos duas dezenas de composições, muitas delas registradas em fitas K7 ainda no seu estágio inicial - e que ali ficariam para sempre se não fosse por Mônica.
- Tive o primeiro contato com esse material há 10 anos, e foi como descobrir um tesouro. Fiquei tão impressionada que jamais imaginei que um dia gravaria essas músicas - declara. - Só agora me senti pronta para fazer o disco.
Das 23 músicas às quais a cantora teve acesso, apenas uma das 14 que entraram em Corpo de Baile é conhecida do grande público: Bolero de Satã, gravada por Elis Regina no disco Essa Mulher (1979). O restante ou é completamente inédito (como Rancho das Sete Cores e Fim dos Tempos) ou foi registrado em LPs de tiragem limitadíssima que estão há muito fora de catálogo (Nonsense e Noturna). Escolhidas as faixas, o próximo passo foi definir os arranjos para canções que, mesmo em estado bruto, carregavam alguma personalidade.
- O maior desafio foi manter as características originais e, ao mesmo tempo, permitir a minha interferência como intérprete e casar com os arranjos escolhidos - explica a cantora paulistana.
O time de arranjadores convocado por Mônica produziu faixas que vão da valsa Procissão da Padroeira à moda caipira Violada; algumas canções ficaram mais enxutas e dramáticas (Porto de Araújo), enquanto outras ganharam corpo e ritmo dançante (Bolero de Satã). As letras falam de política (Fim dos Tempos), contemplam a existência (Navegante, Fonte Abandonada), exaltam a vida natural (Quadrão, Curimã) e o amor (Sedutora, Corpo de Baile).
- Ao final, cada uma das músicas se mostra uma história única. A unidade entre elas se dá por conta da parceria do Guinga com o Paulo César - define Mônica.