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Glaciares dos EUA encaram inevitável fim perante ceticismo de Trump

16 mai 2017 - 10h01
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Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, toma uma decisão sobre a saída de seu país do Acordo de Paris e alimenta o ceticismo sobre o aquecimento global, os cientistas alertam sobre o "inevitável" desaparecimento dos glaciares em um dos parques nacionais mais emblemáticos do país: o Glacier National Park, de Montana.

Dos 150 glaciares que existiam no parque no final do século XIX, só restam 26, e nos últimos 50 anos eles perderam 85% de sua massa de gelo, segundo um estudo divulgado na semana passada pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).

"Seu futuro está selado (...) Veremos eles desaparecer no curso de nossas vidas. Não há possibilidade de que voltem a renascer", assegurou Daniel Fagre, pesquisador do USGS.

Fagre disse que este processo de dissolução dos glaciares é "dramático e inevitável" e terá importantes consequências na fauna e flora do parque, batizado precisamente como "parque dos glaciares" quando foi criado em 1910.

Para o pesquisador, o estudo dos glaciares é especialmente significativo, já que são barômetros estáveis das mudanças de longo prazo na Terra, já que não reagem à tendência climática anual.

"Sabemos que há uma tendência de longo prazo quando os glaciares todos estão derretendo ou crescendo simultaneamente", ressaltou Fagre.

Os glaciares são grandes volumes de gelo que se originam pelo acúmulo e cristalização da neve, e cujo deslocamento ao longo dos anos dá lugar aos característicos vales em forma de U. Seu processo de retirada é um dos mais prezados pelos geólogos, já que trazem informações de milhares de anos.

O enorme parque Glacier, de 4,1 mil quilômetros quadrados, está localizado no estado de Montana, no noroeste dos EUA, e faz fronteira com o Canadá. Alguns de seus glaciares têm mais de 12 mil anos.

"Embora a redução de Montana seja mais severa que em outros lugares dos EUA, está em linha com as tendências que vimos em escala global", salientou Andrew G. Fountain, professor da Universidade de Portland e coautor do estudo do USGS.

O trabalho atribuiu este fenômeno ao aumento da temperatura global e ao aumento de chuva frente à neve no parque.

O mais provável, advertem os geólogos, é que EUA percam todos seus glaciares em seus estados contíguos até o final do século e só restem os de Alasca, acima do paralelo 48.

Este processo ocorre ao mesmo tempo em que o presidente Trump insiste em defender o ceticismo a respeito da influência da atividade humana no aquecimento global.

A Casa Branca anunciou na semana passada que Trump tomará uma decisão sobre a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris sobre mudança climática após sua viagem à cúpula do G7 que será realizado no final deste mês na Itália.

Nesta semana ficou evidente um confronto interno no seio do Executivo entre duas facções: uma é liderada pela filha do governante e assessora presidencial, Ivanka Trump, e pelo secretário de Estado, Rex Tillerson, que defendem o cumprimento do pacto climático.

A outra é liderada pelo estrategista-chefe de Trump, Stephen Bannon, e pelo diretor da Agência de Proteção Meio ambiental (EPA), Scott Pruitt, que propõem a retirada.

Em 2016, Pruitt apontou que "os cientistas continuam em desacordo sobre o grau e alcance do aquecimento global e sua conexão com as ações dos seres humanos" e acrescentou que "o debate deveria ser alentado - em classes, foros públicos e nas salas do Congresso".

O compromisso assumido pelos Estados Unidos, assinado em 2015 pelo então presidente Barack Obama, era o de reduzir até 2025 suas emissões de gás de efeito estufa entre 26% e 28% com relação aos níveis de 2005.

Trump criticou os excessivos regulamentos ambientais que colocam um freio ao desenvolvimento econômico e iniciou, através de uma série de ordens executivas, a revisão das medidas de controle de emissões aprovadas por Obama.

As propostas do governante geraram uma enorme rejeição interna, particularmente da comunidade científica e de ativistas ambientais, que realizaram diversas manifestações em Washington e outras grandes cidades para criticar Trump e insistir na necessidade de proteger os recursos naturais.

Enquanto isso, os glaciares prosseguem seu silencioso desaparecimento.

EFE   
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