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Águas-vivas também dormem – mesmo sem ter um cérebro

Como os humanos, elas são mais lentas quando acordam e caem de sono durante o dia se enfrentam uma noite mal dormida

Por Guilherme Eler
Atualizado em 11 mar 2024, 16h21 - Publicado em 22 set 2017, 18h59

É durante o descanso noturno que nossa central de comando se prepara para um novo dia. Além de fixar as memórias e eliminar toxinas dos neurônios, o período de sono permite ao corpo se desconectar e relaxar por completo – pelo menos até que o despertador toque na manhã seguinte.

Assim como os humanos, sabe-se que os mamíferos e as aves também costumam dormir dessa mesma forma, fechando os olhos e se “desligando” do mundo exterior. Há exceções, tipo a coruja, que mantém seu cérebro em um estado de consciência capaz de perceber quando um predador está a espreita. Para outros, o sono é um tanto mais ingrato. As girafas, por exemplo, dormem em pé apenas duas horas por noite – divididas em cochilos de vinte minutos.

Até aqui, tudo mais ou menos igual. As coisas se tornam mais interessantes quando tomamos o exemplo de bichos como as baleias, tubarões e formigas. Mesmo com o super-poder de se manterem continuamente despertos, é normal que eles precisem dar umas breves cochiladas. Quando o sono aperta, eles entram em um estado de dormência conhecido como “letargia”: seu metabolismo se torna mais lento, tudo vai ficando mais devagar e, então, eles passam a se comportar como se estivessem dormindo acordados.

Ainda que a modalidade de sono varie conforme as demandas de cada espécie, todos os dorminhocos, até então, tinham algo comum: a presença de um sistema nervoso central. Concentrado em um crânio, ele apareceu pela primeira vez nos peixes primitivos (como as lampreias), e permitiu o desenvolvimento de seres vivos muito mais complexos e inteligentes – com novas funções metabólicas e avanços em relação à memória e aprendizado.

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Mas um novo estudo, publicado no jornal Current Biology, mostrou pela primeira vez que animais muito mais simples também podem ter um regime de sono “letárgico”. Desafiadoras do senso comum, as águas-vivas não possuem sistema nervoso da forma como estamos acostumados. Na verdade, ele até existe, mas é muito rudimentar: fica espalhado por meio de terminações nervosas ao longo do corpo, sem centralizar tudo em um órgão principal. Mesmo assim, descobriu-se que elas dormem e sentem falta do sono – da mesma forma com acontece com organismos mais recentes, evolutivamente falando.

Para flagrar o primeiro ronco de água-viva da história, os pesquisadores monitoraram 23 indivíduos dia e noite, durante uma semana. Todos as cobaias eram do gênero Cassiopea, muito comum nas águas tropicais mais tranquilas e conhecida popularmente como água-viva de cabeça para baixo. As medições mostraram que, durante a noite, as águas-vivas reduziam sua pulsação para 39 batimentos por minuto. A efeito de comparação, a média registrada durante o dia costuma ficar na casa dos 60 batimentos – 30% a mais.

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Aproveitando o ensejo, os pesquisadores testaram também o quão pesado era o sono desses animais. Uma vez que seu local preferido de repouso são as águas mais fundas, a ideia era testar sua reação quando colocadas na superfície do tanque de testes. Mantendo-as na parte de cima com a ajuda de um tubo, eles mediram a velocidade com que os bichos nadavam rumo ao fundo depois de provocados.

Quando estimuladas durante a noite, as águas-vivas que estavam no fundo do tanque gastavam mais tempo para nadar até a superfície, em comparação a enquanto acordadas. Seria como se você, logo após uma noite de sono, tivesse que subir um lance de escadas. A disposição para a tarefa, claro, não seria a mesma.

“Percebemos que as águas-vivas precisam dormir para se comportar normalmente, o que indica que o hábito é uma parte importante de seu metabolismo”, contou Ravi Nath, um dos autores do estudo, ao site Seeker.

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Para comprovar esses resultados, os cientistas fizeram ainda testes individuais, em que jogavam jatos d’água nas cobaias a cada 10 segundos – durante 20 minutos. Assim, garantiam que essas águas-vivas não entrariam em seu merecido sono noturno. Esse incômodo todo fez diferença durante o dia: aqueles que foram mais provocados mostraram mais chance de entrar no “modo repouso” à luz do dia, quando deviam estar acordadas. A coisa ficou ainda mais feia quando as águas-vivas foram pentelhadas durante a noite toda. Bastou uma noite de sono mal-dormida para que elas passassem o dia 17% menos ativas do que o normal. Haja mau-humor.

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