“Se eu não existisse, que falta faria?” A pergunta sai da boca do filósofo Mario Sérgio Cortella. Sentado nos bastidores do Theatro Capitólio em Varginha (MG), ele se preparava para falar com uma geração que ora se sente perdida em seus propósitos profissionais, ora não sabe para onde seguir em meio às turbulências de uma instabilidade nacional.
A pergunta acima foi lançada pelo filósofo depois de ele ser questionado sobre o que podemos fazer naquele momento em que a insatisfação intensa não te permite caminhar para lugar nenhum. A temática é tratada em seu último livro: “Por que fazemos o que fazemos?”
“A reflexão que a gente deve fazer e é o tempo todo, eu sempre faço quando posso: ‘Se eu não existisse, que falta faria?’ Porque se eu chegar à conclusão de que não faço falta, é sinal de que eu preciso tomar uma providência. E não é extinguir a mim mesmo. É começar a agir de maneira a fazer falta”, completa.
Cortella esteve na cidade na última quinta-feira (17) durante a Semana do Empreendedorismo, organizada pelo Sebrae Minas e a Associação Comercial, Industrial. Agropecuária e de Serviços de Varginha (Aciv). À frente de um teatro lotado, ele falou sobre crise e superação com a palestra “Cenários turbulentos, mudanças velozes: negação, proteção, superação”.
Para o filósofo, a crise econômica que o país vive ou a pessoal, que vivemos pela expectativa da satisfação profissional, não se justifica com a falta de ação. Exceto as grandes tragédias inevitáveis – como um tsunami – todo o resto é uma questão de escolha.
“Mede-se a inteligência do indivíduo pela capacidade de incertezas que ele é capaz de suportar. É preciso ter coragem, e coragem não é a ausência do medo, é a capacidade de enfrentá-lo. Então é preciso superar e fazer alguma coisa, não esperar que a crise passe”, citou durante a palestra.
Nos bastidores, Cortella falou um pouco mais sobre as mudanças do mundo corporativo. Para ele, apesar do conflito de gerações atual entre o novo profissional, ansioso, conectado e insatisfeito por natureza, e o velho profissional, amante da estabilidade, é possível ver um cenário positivo nas empresas que conseguem equilibrar os dois lados.
“O que nós teremos de cenário? Aquilo que a gente quiser. A nova geração não é um encargo, é um patrimônio. Ela é inteligente, é criativa, aberta, flexível, tem uma facilidade extrema no mundo digital, mas tem que ser reposicionada naquilo que é o esforço do mundo do trabalho. E a geração que já está no mercado, ela tem algumas acomodações que são provocadas a ruptura por essa nova geração. Então a única solução é uma convivência ‘intergeracional’”, explicou.
Para o filósofo, o segredo para tudo – e até da vida – é ter em mente que nada vem de graça. Qualquer transformação, superação de crises ou projeto de sucesso é resultado de muito trabalho. “Vaca não dá leite, você que tem que tirar”, finaliza.