Rio

Criador do 'Voz da Comunidade' é detido cobrindo ação da PM no Alemão

Acusado de desacato e desobediência, Rene Silva teve o celular apreendido durante transmissão ao vivo de uma remoção no Complexo
Rene Silva após prestar depoimento na 45DP (Alemão) Foto: Jornal 'Voz da Comunidade'/Reprodução do Facebook
Rene Silva após prestar depoimento na 45DP (Alemão) Foto: Jornal 'Voz da Comunidade'/Reprodução do Facebook

RIO - O fundador e editor-chefe do jornal "Voz da Comunidade", Rene Silva, e seu irmão, o fotógrafo Renato Moura, foram presos pela Polícia Militar no fim da manhã deste sábado, acusados de desacato e desobediência. A dupla fazia a cobertura de uma remoção da Favelinha da Skol. Um homem identificado como Deyvid Batista da Silva também foi preso. Eles foram levados para a 45ª DP (Alemão), onde prestaram depoimento e, em seguida, foram liberados.

Após sair da delegacia, Rene foi direto para a redação do "Voz da Comunidade", onde se encontrou com familiares e outros jornalistas.

— Fiquei sabendo da remoção por meio de mensagens de celular enviadas por moradores daquela comunidade. Estava em casa quando me chamaram para fazer a transmissão ao vivo da ação. Chegamos lá e começamos a transmitir, eu no celular e Renato com a câmera fotográfica. Haviam outras pessoas de mídia realizando a cobertura, por isso não entendi por que somente nós fomos pegos. Não durou três minutos, e a polícia levou Renato para dentro da viatura, alegando desobediência. Nisso, comecei a transmitir este ato, até que eles puxaram meu celular e levaram. Estava na calçada, pedi para devolverem, mas o policial me algemou e me levou para o carro. Um outro agente jogou spray de pimenta em meus olhos — narrou Rene.

Momento em que Rene Silva é detido Foto: Renato Moura / Voz da Comunidade
Momento em que Rene Silva é detido Foto: Renato Moura / Voz da Comunidade

Segundo o delegado Fábio Asty, titular da 45ª DP, os três respondem por crime de desobediência e serão investigados por esbulho possessório (invasão de propriedade). O comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília afirma "não ter lançado mão de spray de pimenta".

Nova ação policial

Na parte da tarde, quando moradores reconstruíam os barracos que haviam sido destruídos anteriormente, os policiais militares voltaram à Favelinha da Skol. Desta vez, o atrito foi maior. A PM fez diversos disparos com balas de borracha, além de ter utilizado bombas de gás lacrimogêneo. Os barracos, feitos de bambus e pedaços de madeira, foram todos destruídos novamente. Havia crianças e idosos no local.

— Os policiais jogaram fogo nas coisas, saíram destruindo as cortinas com as crianças dentro dormindo. Somos pobres, mas não somos bandidos — protestou William de Freitas, de 38 anos, ainda se referindo à primeira ação da polícia.

O comando da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) afirmou que não houve uso de armamentos (letais ou não-letais) durante a primeira ação. E, na segunda, disseram que houve uso apenas de armas não-letais. Ainda de acordo com a assessoria da UPP, o uso precisou ser feito por questão de "defesa", já que tiveram um policial ferido.

Um vídeo (acima), porém, flagrou diversos policiais agredindo uma pessoa não identificada. A pessoa não mostra quaisquer sinais de resistência e, mesmo caída, é chutada pelos agentes. Sobre isto, a CPP informou que "determinou a abertura de uma averiguação para apurar os fatos".

Rene Silva, fundador do veículo de comunicação, é um dos três detidos
Rene Silva, fundador do veículo de comunicação, é um dos três detidos