Desde o início do Paulistão até as semifinais, pensava-se que o Santos seria beneficiado por poder se concentrar física e mentalmente apenas no Estadual. Mas no primeiro jogo das finais ficou claro: a Libertadores fez bem demais ao Corinthians.
No ritmo de quem vem de uma disputa contra o Boca Juniors na Bombonera, o Corinthians atropelou no primeiro tempo um Santos que vem de confrontos contra pequenos em ponto morto e de um confronto sonolento contra o Palmeiras, assim como na maioria dos clássicos neste ano.
O resultado disso foi não apenas o 1 a 0, mas toda a diferença ofensiva no primeiro tempo: foram 10 finalizações do Corinthians contra 2 do Santos; foram 3 finalizações certas do Timão contra nenhuma do Peixe; 12 cruzamentos do Corinthians e 2 do Santos; 9 escanteios para o Corinthians e nenhum para o adversário.
O Santos não atacou. Até seus erros apontam isso: o ataque do Santos foi pego em 1 impedimento no primeiro tempo e 5 no segundo tempo, o que mostra que até quando errou, foi contundente só no segundo tempo o Santos.
O bicampeão mundial Corinthians só não pode ser mais comparado ao Barcelona porque o Timão não é o Barça. Ainda assim, é um Corinthians histórico, avassalador quando tem pela frente um adversário previsível, o que permitiu ao dinâmico meio-campo corintiano antecipar-se e interceptar grande parte dos passes.
Ralf se destacou pela vitalidade em chegar primeiro em toda bola em seu setor. Estava tão acelerado em campo que quando o árbitro Wilson Seneme acertadamente não marcou pênalti de Edu Dracena em Romarinho, foi Ralf quem discutiu e colocou pressão sobre a arbitragem, surpreendendo até mesmo alguns companheiros, aos 36 minutos do primeiro tempo.
A diferença entre as equipes ficou mais clara quando o Santos precisou fazer passes mais longos para tentar evitar as antecipações nos curtos e jogar: os passes saiam fortes demais.
O Corinthians não deixou, e o Santos não jogou no primeiro tempo.
Por méritos do Corinthians,
poderia ter sido uma goleada.
Por méritos do Santos,
não foi.
Aos, 15 minutos, Ralf desviou escanteio para Danilo, e o goleiro Rafael salvou o Santos; aos 19, Romarinho fez assistência para Emerson, e o goleiro Rafael salvou o Santos.
Aos 41, Romarinho bateu falta levantada, Danilo dominou mal, se jogou e tocou para Paulinho matar com a coxa esquerda e completar com a direita no canto para fazer 1 a 0.
Aos 43, Alessandro cruzou, a defesa rebateu, e Paulinho estava pronto para o rebote. Acertou o travessão em um chutaço.
No segundo tempo, o Corinthians usou sua maestria em assegurar a vantagem construída, aquela irritante que por tanto tempo levou o clube a vencer por apenas 1 gol de diferença e o transformou em uma potência de nível internacional pronta para se proteger e atacar com precisão e afinco.
O Santos conquistou espaço ao colocar André e Felipe Anderson para dar algum volume ofensivo à equipe. Os números se tornaram diferentes: 5 finalizações do Corinthians, 12 do Santos; 3 finalizações certas do Corinthians, 6 do Santos; 6 cruzamentos do Timão, 5 do Santos; 2 escanteios do Corinthians, 4 do Santos.
Ainda assim, foi goleiro Rafael quem continuou impedindo uma goleada do Corinthians em 2 assistências e 2 finalizações de Emerson, aos 2 e aos 6 minutos do segundo tempo.
O Corinthians só voltou a fazer uma finalização certa aos 29 minutos, quando abriu 2 a 0 logo após colocar Pato em campo e renovar sua força ofensiva. Curiosamente, com a força ofensiva renovada, coube ao zagueiro Paulo André marcar: Emerson bateu o escanteio da esquerda, Danilo errou o domínio, Renê Júnior sentado cortou como deu e Paulo André emendou para o gol.
Também foi a última finalização certa o Corinthians na partida.
O Santos só fez mais 2 depois disso: aos 34, Felipe Anderson bateu escanteio da direita na segunda trave, Neymar cabeceou, mas o goleiro Cássio evitou o gol.
Aos 36, Felipe Anderson bateu falta levantada da direita, e Durval cabeceou para o gol, fazendo 2 a 1.
Não, o sonho ainda não acabou. Nem para quem tenta conquistar nem para quem busca impedir o inédito tetracampeonato no Paulista no profissionalismo.
Vale o registro: em 111 anos de história do Campeonato Paulista, apenas 1 vezes um clube conseguiu comemorar o tetracampeonato. E em 1916-17-18-19 houve uma cisão que dividiu os clubes em duas entidades, o que de certa forma facilitou a façanha do Clube Atlético Paulistano. Basta lembrar que em 1916 o Corinthians foi campeão da liga paralela. Não se repetiu mais em 83 anos.
Desde o início do Paulistão deste ano, o Santos decidiu jogar contra o São Paulo e não jogar nos demais jogos. Ou pelo menos não se empenhar no ataque.
Para ser tetracampeão, assim como campeão mundial, seja de clubes ou seleções, é preciso que todos os jogadores formem uma equipe coesa, com o mesmo potencial para decidir.
No caso do Corinthians, as conquistas da Libertadores e do Mundial no ano passado, e também a temporada atual, não deixam dúvida de que a equipe está pronta, concentrada e determinada a prolongar sua trajetória de títulos. Principalmente quando os volantes Paulinho e Ralf se alternam nas subidas ao ataque de forma tão inteligente para reforçar o ataque.
No caso do Santos, o time não poderia contar apenas com Neymar. E o Santos chega ao último joga da decisão com chances reais de ser campeão praticamente sem ter precisado de Neymar (ou para ser mais correto, precisando muito pouco de Neymar, que ainda assim é o artilheiro do campeonato, com 12 gols; mas a alegoria é válida).
No jogo decisivo, vai precisar também de Neymar. O marketing, os assessores, a mídia, todo o resto, estará fora das quatro linhas. Então, saberemos o que esperar dele na Copa das Confederações que está por vir.
O Corinthians abriu vantagem para mostrar que deve-se esperar pouco de Neymar. O Santos trabalhou muito para provar o contrário. Será no domingo, às 16h.
P.S.: Inexplicavelmente, em uma das três citações que fiz a ele no texto, errei o nome do goleiro do Santos, Rafael. Chamei-o de Gabriel. Péssimo. O texto foi corrigido na terça-feira, às 12h50.
P.S.2: Errei também ao colocar o Paulistano como tetracampeão em 1926-27-28-29. Em 1928, Paulistano e SC Internacional empataram em pontos, mas foi o Internacional quem venceu o jogo desempate e não o Paulistano. O texto foi corrigido na terça-feira, às 12h50.