segunda-feira, 4 de abril de 2016

JUSTIÇA





Todas as vezes que olho para a imagem acima me pergunto: o que é que o homem sentado em frente aos seus investigadores tem a dizer ou a esconder? Qual é a história desse personagem e por que ele se encontra nessa situação? O que querem saber dele as frias, calculistas, “científicas” figuras que o analisam em minúcias? E o que estará escrito nas folhas do manual ou laudo dos que o avaliam?
O homem, pela imagem refletida nos espelhos dos microscópios, tem o rosto tenso, nervoso, de quem teme o resultado da sua avaliação.
Seus julgadores, por sua vez, tem o olhar impessoal, frio, atento, investigativo, de quem considera unicamente os fatos, de forma analítica, despidos de qualquer paixão ou outro interesse pelo ser humano à sua frente. Aliás, nem mesmo nisso ele se parecem. Já nem mais corpos, como os da nossa espécie, possuem, mas estão transformados em instrumentos de pesquisa, ampliando os detalhes sob possantes conjuntos de lentes.

Encontro semelhanças no olhar abstraído dos 3 julgadores com o da figura da Justiça do tarot Rider-Waite. É um olhar que parece não estar concentrado no que se vê, mas ultrapassa a camada mais evidente da realidade, em busca da essência do personagem ou do fato. Pois a Justiça não deve ater-se às aparências, pois as sabemos enganosas, e sim utilizar do seu instrumental (a espada, no caso da carta do tarot, ou as lentes de aumento, no caso da imagem em questão) para obter respostas que não permitam evasivas, subentendidos, ou mesmo, desculpas.




Imparcialidade tanto no processo investigativo quanto no julgamento é o que essa espada em riste, que a mulher da carta do tarot segura, significa. Ela oferece a mesma condição de análise, o mesmo critério e extensão de julgamento, o mesmo tipo de punição em ambos os lados da lâmina. Não beneficia ou privilegia a nada ou ninguém. Não tem opinião própria, pois baseia-se em fatos, em evidências, em medidas e critérios criados pela sociedade como um todo, a cada época, para regular o convívio social.

Todos os aspectos relacionados à questão são beneficiados com a mesma imparcialidade, representada pelos pratos nivelados da balança, ou, no caso da ilustração acima, pelo número ímpar de “juízes”, todos com as mesmas características e semelhanças. Essa maneira de “ver” a todos sob a mesma ótica, beneficiando-se das mesmas condições, é traduzido pela imagem da Justiça “cega”, com os olhos vendados, indiferente às diferenças naturais dos seres humanos. Todos são iguais perante a lei, é uma afirmação que justifica a venda sobre os olhos, eliminando a complacência do olhar apaixonado e permitindo que apenas a razão pura prevaleça.

Justiça é uma virtude e um ideal. Um critério que sofre alterações constantemente, acompanhando a evolução das mulheres e homens que habitam este planeta. Se a ideia do que é justo é algo divino, as leis que a descrevem, regulam e sacramentalizam são criadas por seres em evolução e, portanto, passiveis de cometerem constrangedores enganos em seu nome.

Ainda que esse Arcano possa representar assuntos relacionados com a Justiça dos homens (ações, processos, juízes, advogados, promotores, audiências, causas, pareceres, documentos, etc), ela fala diretamente ao padrão ético e moral de cada indivíduo. É sobre como analisamos, investigamos, tiramos conclusões e aplicamos julgamentos nos fatos e nas pessoas que permeiam nosso dia a dia que essa carta se relaciona. O quanto somos, ou não, tendenciosos, irresponsáveis, prepotentes, relapsos, venais, cruéis, capazes, justos, rigorosos, sérios, descomprometidos ou éticos ao avaliarmos as ações alheias.

Quando olhamos a imagem do homem sentado, quase acuado, ansiedade estampada no rosto e na postura, frente aos seus inquisidores, também nos leva a pensar que estamos constantemente sendo avaliados em nossa conduta e desempenho. Seja no trabalho, no âmbito familiar, pelas nossas posições políticas, filosóficas ou religiosas, pela nossa conta bancária, pelos nossos talentos ou a falta de alguns deles, onde moramos, como nos vestimos e comportamos, o que ou quem frequentamos e, até mesmo, pela nossa aparência física, há sempre algum tipo de julgamento sendo realizado.

Se a perfeita ideia de Justiça é tão somente um ideal, que possamos dele nos utilizar da mais perfeita forma para que todos possamos viver dignamente, respeitando diferenças para nunca incorrermos no triste fato de desequilibrar os pratos da balança e, com isso, a harmonia no Universo.


Alex Tarólogo

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