Na cultura midiática brasileira, a Lei de Gérson é um princípio em que determinada pessoa ou empresa obtém vantagens de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais.

A "Lei de Gérson" acabou sendo usada para exprimir traços bastante característicos e pouco lisonjeiros do caráter midiático nacional, que passa a ser interpretado como caráter da população, associados à disseminação da corrupção e ao desrespeito a regras de convívio para a obtenção de vantagens.

Origem editar

A expressão nasceu em meados da década de 80 quando o jornalista Mauricio Dias entrevistava o professor e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa para a revista Isto É por ocasião de seu artigo "Narcisismo em tempos sombrios". Foi nesta entrevista que Dias batizou como "Lei de Gérson" o desejo que grande parte dos brasileiros tem de levar vantagem em tudo. Mais tarde, em 1992, na edição 18 da revista Teoria e Debate, o termo "Lei de Gérson" foi novamente lembrado por Maria Rita Kehl em entrevista com o mesmo Jurandir Freire da Costa.[1]

Ao cunhar a expressão "Lei de Gérson", Maurício Dias fez alusão à propaganda televisiva de 1976 criada pela agência Caio Domingues & Associados, que havia sido contratada pela fabricante de cigarros J. Reynolds, proprietária da marca de cigarros Vila Rica, para a divulgação do produto. O vídeo apresentava o meia-armador Gérson, jogador da Seleção Brasileira de Futebol, como protagonista.[2][3]

O vídeo tem início com a afirmação de que Gérson foi o "cérebro do time campeão do mundo da Copa do mundo de 70". A narração é feita pelo entrevistador, que se apresenta de terno, gravata e microfone à mão. A cena se passa em um sofá de uma sala de visitas.

O entrevistador pergunta por que Gérson escolheu os cigarros Vila Rica. Ao iniciar a resposta, Gérson saca um maço de Vila Rica e oferece um cigarro ao entrevistador. Enquanto o entrevistador fuma seu cigarro Vila Rica, Gérson explica os motivos que o fizeram preferir aquela marca.

"Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!".

Mais tarde Gérson se disse arrependido por ter associado sua imagem ao anúncio, visto que qualquer comportamento pouco ético foi sendo aliado ao seu nome nas expressões Síndrome de Gérson ou Lei de Gérson.

O diretor do comercial da Caio Domingues & Associados, José Monserrat Filho, procurando se eximir de responsabilidade, sustenta que o público fez uma interpretação errônea do seu vídeo: "Houve um erro de interpretação, o pessoal começou a entender como ser malandro. No segundo anúncio dizíamos: levar vantagem não é passar ninguém para trás, é chegar na frente, mas essa frase não ficou, a sabedoria popular usa o que lhe interessa".

Nos anos 1980 os meios de comunicação em massa brasileiros começaram a divulgar notícias sobre corrupção na política brasileira e a população começou a utilizar o termo "Lei de Gérson".[4]

Referências

  1. Maria Rita, Kehl (1 de maio de 1992). «Politicamente Correto». Teoria e Debate. Consultado em 18 de setembro de 2017 
  2. «Viva a lei de Gérson!». Superinteressante. Fevereiro de 2004. Consultado em 2 de maio de 2010. Arquivado do original em 1 de março de 2009 
  3. «Como é difícil revogar a Lei de Gérson». Prosa e Política 
  4. «O comercial da Lei de Gerson». Almanaque da Comunicação. Consultado em 2 de maio de 2010. Arquivado do original em 25 de janeiro de 2010 

Ver também editar