26/01/2016 11h19 - Atualizado em 26/01/2016 20h59

Campus Party reclama de falta de apoio da Lei Rouanet: 'Injusto'

Presidente da Campus Party fala em 'visão conservadora da cultura' em carta.
MinC rebate e diz que comissão é autônoma e que valoriza a cultura digital.

Helton Simões GomesDo G1, em São Paulo

Francesco Farruggia, Francesco Farrugia, presidente da Campus Party, criticou ministério da Cultura por não conceder Lei Rouanet ao evento (Foto: Helton Simões Gomes/G1)Francesco Farruggia, Francesco Farrugia, presidente da Campus Party, criticou ministério da Cultura por não conceder Lei Rouanet ao evento (Foto: Helton Simões Gomes/G1)

O presidente do Instituto Campus Party, Francesco Farruggia, divulgou nesta terça-feira (26), dia de abertura do evento de cultura nerd e pop, uma carta aberta ao Ministro da Cultura (MinC), Juca Ferreira, alegando que a pasta não concedeu o benefício da Lei Rouanet. A Campus acontece até domingo (31) em São Paulo.

 

Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa do MinC informou, após a publicação desta reportagem, que respeita a autonomia da comissão responsável por analisar os projetos, e que o ministério atua com intensidade na área de cultura digital. Veja a íntegra da carta de Farruggia e a resposta do MinC no final do texto.

"Conheço o Juca há muitos anos. Ele esteve em todas as Campus. É um cara antenado", afirmou Farruggia na carta (leia a íntegra abaixo). "Isso não é um ataque ao ministro."

Na carta, o presidente da Campus diz que "negar incentivo à cultura digital não só é negar o presente, é excluir do futuro milhões de jovens de todo o Brasil".

E continua: "entender que cultura é só música erudita, música folclórica e livros, além de injusto, é ter uma visão conservadora da cultura. Os criadores de vídeo e arte digitais, designers, músicos digitais, criadores de jogos, blogueiros, modding e tantos outros são expressões de arte e cultura atual".

"Isso não depende do ministro, mas de uma comissão", afirmou Farruggia. "É um problema do mecanismo pelo qual se concede o incentivo da Lei Rouanet."

Por meio do expediente da lei Rouanet, o MinC não libera verbas para custear eventos ou projetos culturais. A pasta apenas permite que empresas abatam da quantia a ser arrecada sob a forma de imposto parte da quantia destinada a projetos aprovados pela lei.

"Isso não é tanto pela Campus, porque a Campus Party está acontecendo igual. É por todos os eventos de cultura digital."

Íntegra da carta e a resposta do Ministério da Cultura:

CARTA ABERTA AO MINISTRO DA CULTURA
Prezado Ministro da Cultura,
Sr. Juca Ferreira

Ao contrário do ocorrido em anos anteriores, o Ministério da Cultura negou o incentivo da Lei Rouanet à Campus Party. A motivação, expressada por altos funcionários do Ministério, foi de que a Campus Party é um evento de “tecnologia”. Gostaria de expressar aqui alguns conceitos para evitar esse mal entendido.

Negar incentivo à cultura digital não só é negar o presente, é excluir do futuro milhões de jovens de todo o Brasil.

Entender que cultura é só música erudita, música folclórica e livros, além de injusto, é ter uma visão conservadora da cultura.

Os criadores de vídeo e arte digitais, designers, músicos digitais, criadores de jogos, blogueiros, modding, e tantos outros são expressões de arte e cultura atual.

Pensar que cultura é só pintura e não o modding, que cultura é só o cinema e não os vídeos independentes, que os e-books não são literatura, é uma visão arcaica e limitada.

Não se pode alegar ignorância, já que desde que a Campus Party existe, os Ministros da Cultura sempre estiveram presentes, desde Gilberto Gil, Marta Suplicy e você mesmo, Sr. Ministro.

https://www.cultura.gov.br/banner-2/-/asset_publisher/0u320bDyUU6Y/content/cultura- do-seculo-21-tem-muito-a-ver-com-a-campus-party-diz-ministro/10883

https://www.youtube.com/watch?v=BnLcCztCGaI

Não entendemos a incoerência do Ministério que nega o benefício da lei de incentivo ao maior acontecimento que existe no mundo nesse âmbito, que é a Campus Party, sendo a de São Paulo a maior edição dentre todos os países onde o evento opera.

No Ministério da Cultura talvez desconheçam que hoje a cultura digital tira dezenas de milhares de jovens do narcotráfico, dando oportunidades àqueles excluídos das universidades e até escolas. Eles hoje encontram a oportunidade de expressar-se com os FabLabs, que distintos prefeitos estão instalando nas periferias das mais importantes cidades brasileiras, gerando a maior revolução cultural que se possa imaginar.

Negar a cultura digital é como pensar que só se pode comunicar com jornais e não com um blog, que só existe o desenho pintado e não em 3D.

Obter a lei de incentivo não significa nenhum presente. Se é aplicada e utilizada como se deve, há ainda que convencer empresas de que o projeto é interessante. No Ministério da Cultura sabem que negar a lei de incentivo é, na prática, excluir as grandes empresas do Estado dos potenciais patrocinadores, já que elas estão obrigadas a participar, em primeira instância, por meio da Lei Rouanet. Negar esse incentivo em um momento de crise significa comprometer muitas iniciativas digitais. Subestimar as comunidades de cultura digital não é apenas injusto, é um grande erro político.

Tomo a liberdade de informar ao Sr. Ministro que está em curso uma mudança de paradigma cultural: é a primeira vez na história da humanidade que os filhos ensinam aos pais.
Considerar que o encontro de dezenas de milhares de jovens inteligentes, ativos, empreendededores que se movem em torno da cultura digital é uma atividade de tecnologia, é como pensar que um encontro de pintores é uma atividade relativa a pincéis e pinturas.
Hoje a tecnologia digital é transversal a todas as atividades humanas. Negá-la como eixo cultural é como negar a evolução da humanidade.

Não pouparemos esforços para demonstrar ao Ministério da Cultura que está equivocado, sobretudo quando discrimina a cultura digital.

Com o critério atualmente vigente no Ministério da Cultura, ficaríamos presos ao significado etimológico da palavra cultura, que se referia a cuidar das plantas e do gado, e não a cuidar do espírito, como logo evoluiu.

Sr. Ministro, seu Ministério negou não apenas uma lei de incentivo, negou a uma geração a oportunidade de cuidar de seu espírito com as modernas ferramentas que o mundo oferece.

Com todo meu respeito e admiração,
Francesco Farruggia Presidente
Instituto Campus Party

Resposta do MinC:

"Com relação à carta aberta do Sr. Francesco Farruggia, presidente do Instituto Campus Party ao ministro Juca Ferreira, o Ministério da Cultura esclarece que:

A Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) é um colegiado formado por representantes dos setores culturais e empresariais, da sociedade civil e do poder público. A comissão, que é responsável por analisar e dar parecer sobre aprovação de projetos culturais via Lei Rouanet, tem a sua autonomia respeitada pelo Ministério da Cultura.

É inegável e reconhecido o protagonismo do Ministério da Cultura, que desde 2003 atua intensamente na área de Cultura Digital. Várias políticas nesta área têm formulação ativa do MinC, em conjunto com outros ministérios e a sociedade, como por exemplo a articulação nacional e global em defesa de um novo marco regulatório internacional para a internet que garanta direitos e respeito à diversidade cultural.

Reconhecemos também os imbricamentos e fronteiras entre tecnologia e cultura que têm sido discutidos intensamente. Muitos eventos e realizações atuam nesta intersecção. Esta discussão é ampla, atual e é sempre levada em conta no momento da aplicação da Lei Rouanet."


Confira abaixo a programação do palco principal da Campus Party 2016:

26 de janeiro de 2016 (terça-feira)
20h – Cerimônia de abertura
21h –  Palestra Feel The Future. Paco Ragageles.

27 de janeiro de 2016 (quarta-feira)
10h30 –  Lançamento no Brasil da maior empresa mundial de esports (ESL).
13h –  Eugene Chereshnev (Che)
14h30 – Como desacelerar o aquecimento global e criar novas fontes e energias. Guilherme Nastari.
15h45 –  Inspiracional + Motivador + Uma dose de realidade que nem tudo são flores. Leonardo Tristão.
17h –  Ime Archibong, diretor global de Parcerias Estratégicas do Facebook
18h15 –  Novo Cartola FC: as novidades do maior fantasy game do Brasil.
20h – Grant Imahara

28 de janeiro de 2016 (quinta-feira)
10h30 – O Futuro das Tecnologias Educativas. Vanderlei Martinianos.
11h45 – Cidade dos Drones.
13h –  Daniel Matros.
14h30 – Humanos, tecnologia e o futuro da educação. Guy Vardi.
15h45 – Desenvolvimento de produtos com a metodologia human centered. Mark Jamison
18h15 – Another Week = Cartoon Network. Agustin Ferrando.
20h – Michel Smit
21h30 – Como ganhar dinheiro e viajar o mundo ao mesmo tempo. Eme Viegas e Jaque Barbosa

29 de janeiro de 2016 (sexta-feira)
14h30 – O mundo real de volta ao relacionamento online. Happn. Marie Cosnard
15h45 – A tecnologia pode ser capaz de simular 100% de emoções humanas? Sébastien Tondeur
17h – O futuro das profissões. Daniel Susskind.
20h – Futuro do Marketing. Steve Gershik
21h15 – Se a Crise Nos Muda, a Palestra Muda. (3.0) Dado Schneider

30 de janeiro de 2016 (sábado)
11h45 – Delas pra elas: tecnologia e segurança. Sai pra Lá e ONU mulheres.
13h – Buracos Negros Supermassivos e seu papel na Evolução do Universo. Thaisa Storchi Bergmann.
14h30 – A vida na era das novas sensações. Neil Harbisson. Moon Ribas.
15h45 – O Fator humano e os desafios da Tecnologia da Informação. Gianluca Colombo
20h – Cerimônia de encerramento

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