sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

TRAVESSIA





TRAVESSIA

Quantas vezes na vida prometemos a nós mesmos que nunca mais faremos isso ou aquilo, que não somos mais a mesma pessoa de antigamente, que superamos todos os problemas que nos faziam sofrer, que mudamos radicalmente nossa maneira de pensar tendo deixado para trás uma série de atitudes, preconceitos, crenças ou ilusões e que, daqui para frente tudo vai ser diferente?
E quantas vezes essa promessa se cumpriu, realmente?

No Tarot, a carta mais positiva do naipe de Espadas, além do Ás, é a de número 6. Costumeiramente interpretada como sinal de uma mudança positiva, um abandonar de problemas e dificuldades existentes a nível mental, e a transição para uma nova forma de pensar a vida. É, enfim, um alento e um sopro de alguma esperança numa de uma série que, quase sempre prenuncia situações de conflito.

A foto acima, com esse carro dourado sobre o qual a escultura de um enorme Cristo crucificado está firmemente amarrada, é tão surreal quanto inspiradora, e não deixa de se assemelhar em conteúdo ima ético àquela pintada por Pamela Colman Smith para o Tarot do Waite.
Muitas vezes na vida nós mudamos. Seja de casa, de trabalho, de relacionamento, de país, de religião, de interesses, de grupos de amigos, na vã esperança de, assim procedendo, estarmos nos transformando e modificando situações que nos incomodam. Freqüentemente somos tentados a nos iludir querendo acreditar que as transformações, que sabemos necessárias, ocorrem de fora para dentro. Fica mais fácil assim, não é mesmo? Como se fosse possível erradicar o passado por completo e recomeçar do zero, sem que nenhum traço do que fomos sobrasse para nos lembrar de algo sem que isso fosse um longo trabalho de reformulação interior.




O que deixamos para trás sempre é muito significativo e faz parte do nosso processo evolutivo. É a origem do momento presente. São indissolúveis:um é causa, o outro, consequência. Portanto, levamos conosco, onde quer que estivermos, o peso das nossas ações passadas.
O problema acontece quando alguns não conseguem ver nos erros e desenganos as bases que nos fizeram optar por ações, atitudes e reflexões mais satisfatórias e harmoniosas. São pessoas que não conseguem perdoar a si mesmas, construindo e erguendo, onde quer que estejam, uma cruz onde possam se auto-punir. Essas criaturas fazem grandes alterações em suas vidas, mas não alteram seus padrões mentais, impedindo-as de evoluírem, não se permitindo extrair uma experiência positiva de qualquer desacerto.
Outras, entretanto, também carregam consigo onde quer que vão as experiências passadas, para delas se utilizarem como um referencial de seu próprio crescimento, em termos de conhecimento, ética, moral. A "cruz" não mais pesa sobre os ombros, dificultando e amargurando a caminhada, mas segue junto ao resto da bagagem, em meio a tudo aquilo que constitui sua história de vida.

E daí, do nada, surge em meio a tantas outras, a foto desse carro dourado como os nossos mais nobres pensamentos a transportar, sobre seu teto, todas as dores e pecados do mundo já redimidos, numa hiper-realista representação do divino humanizado.
Então a viagem torna-se realmente transformadora, pois não deixa para trás nada do que é importante para se utilizar em caso de novas turbulências pelo caminho. É o estepe, o "macaco" e as ferramentas em ordem e em boas condições, além do triângulo de segurança, do pisca-alerta ligado e da caixa de primeiros socorros à mão.
Resta aproveitar a paisagem e confiar no sucesso da travessia.

Alex Tarólogo

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