Política Lava-Jato

Líder do PT diz que cobrar Cardozo por ‘abusos’ da PF não é ‘o fim do mundo’

Para o senador Humberto Costa, houve vazamento seletivo do depoimento do empreiteiro Ricardo Pessoa
O Senador Humberto Costa (PT-PE) Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo
O Senador Humberto Costa (PT-PE) Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo

BRASÍLIA - O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse nesta segunda-feira que não há motivo para o afastamento dos ministros Edinho Silva (Comunicação) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) pelo fato de terem sido citados em depoimento de Ricardo Pessoa, presidente da UTC, em delação premiada. O petista criticou o que chamou de vazamento seletivo do depoimento de Pessoa e afirmou que houve "abusos" da Polícia Federal na investigação da Operação Lava-Jato. Para ele, não há problema em cobrar do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, explicações sobre as ações da PF, embora diga que ela deva manter sua autonomia.

Pessoa disse que Edinho Silva, como tesoureiro de Dilma, recebeu R$ 7,5 milhões, e Mercadante, R$ 500 mil em duas parcelas. Os dois afirmaram que as doações foram legais e estão registradas na prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

— Obviamente que em algumas ações realizadas houve, sem dúvida, determinado grau de abuso. Não estranha que o PT faça isso. Cobrar isso do ministro da Justiça não me parece o fim do mundo — disse Humberto Costa.

No caso dos ministros, Humberto Costa repetiu o discurso de que se trata de denúncias de um investigado que está sendo beneficiado pela delação premiada. No final de semana, o ministro Cardozo disse que a delação premiada poderia ser cancelada se as informações prestadas por Pessoa não forem verdadeiras. O PT está nesta posição.

— Não creio em nenhum afastamento, até porque é a palavra apenas de um delator — disse Humberto Costa.

SENADORA DEFENDE 'PACTO CONTRA GOLPISMO'

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) ocupou nesta segunda-feira a tribuna do Senado para pregar um “pacto contra o golpismo e o contra o retrocesso” entre os partidos que apoiam o governo da presidente Dilma Rousseff e a continuidade do projeto que garantiu conquistas sociais para a sociedade. A senadora afirmou que está em construção um ambiente para “criminalizar a todo custo aqueles que estão no poder”.

— E há uma tentativa furiosa de fazer com que a crise chegue ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse objetivo, mais do que nunca, está claro e, mais do que nunca, tem que ser combatido porque a maior conquista de todos nós (e não foi apenas uma conquista daqueles que lutaram contra a ditadura militar) foi sendo construída ao longo do tempo, em todos os momentos, na luta pela consolidação da democracia, na luta pelo fortalecimento, pelo reconhecimento, pelo respeito ao Estado de direito — afirmou a senadora.

Em meio à crise política, o PT decidiu retomar os encontros com os ministros do governo federal. A ideia é reaproximar a legenda dos seus 13 representantes no primeiro escalão. As conversas, de acordo com petistas, vão abordar a conjuntura política e os temas relacionados à cada pasta.

Florisvaldo Souza, secretário de organização do PT, descarta uma cobrança a Cardozo pela atuação da PF, órgão subordinado ao Ministério da Justiça, alegando que o partido não tem autoridade para isso, mas admite que as queixas serão expostas:

— Ele é o ministro da pauta.

A decisão de convidar os ministros foi tomada na reunião da Executiva do PT, na última quinta-feira. Não há ainda data para os encontros ocorrerem.

— Vamos chamá-los para discutir política. Um diálogo natural e normal. A intenção é debater e aproximá-los da atividade partidária — afirma Florisvaldo.

Na mesma reunião, o partido aprovou uma resolução em que classifica como grave a “ação ilegal, antidemocrática e seletiva de setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato”.