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Nabil critica caso Neymar e diz: Peixe não vai perder dinheiro com Damião

Candidato à presidência do Santos é o primeiro entrevistado pelo GloboEsporte.com. Empresário afirma que clube realizará estudo sobre a Vila Belmiro

Por Santos, SP

Nabil Khaznadar  (Foto: João Paulo de Castro)Nabil Khaznadar afirmou que Damião não dará prejuízo ao Santos (Foto: João Paulo de Castro)

Primeiro dos candidatos à presidência do Santos entrevistado pelo GloboEsporte.com, Nabil Khaznadar criticou a postura dos gestores do clube entre 2010 e 2011 no "caso Neymar" e afirmou que o Peixe não perderá dinheiro com Leandro Damião, contratado no início do ano por R$ 42 milhões em transferência financiada pelo fundo Doyen Sports.

Em 2011, Neymar da Silva Santos, pai do astro, recebeu uma carta assinada pelo ex-presidente Luis Alvaro de Oliveira o autorizando a conversar com o Barcelona, da Espanha. Em janeiro deste ano, Neymar pai convocou uma entrevista para explicar a transferência do filho, concretizada em 2013 por € 17,1 milhões - o Alvinegro ficou com cerca de € 9 milhões. Na ocasião, a empresa que tem como sócios ele e a mãe do ex-craque santista, Nadine, recebeu uma comissão de € 40 milhões (cerca de R$ 132 milhões).

- Houve dois erros grotescos (entre 2010 e 2011). O primeiro foi uma renovação de contrato que aumentou valores e diminuiu o tempo de contrato (de 2015 para 2014). Não entendi, pois foi na primeira gestão do ex-presidente (Luis Alvaro), mas eu não faria esse tipo de negociação. E a segunda foi a carta. Quando se dá essa liberdade, você faz o que se bem entende. A culpa foi total da gestão. Isso não acontecerá conosco. O Santos já foi comunicado pela justiça de Barcelona que não tem mais direito nenhum – disse.

Nabil também comentou a contratação de Leandro Damião. Ele chegou ao Santos no início deste ano. O clube terá cinco anos para devolver os R$ 42 milhões da compra, com juros de 10% ao ano, à Doyen. Em até três anos, o Peixe terá de decidir se irá negociá-lo ou se pagará o valor corrigido ao fundo. O centroavante fez apenas nove gols em 40 jogos e tem perdido espaço até mesmo no banco de reservas.

- Ele (Damião) tem contrato até 2018, e o Santos tem que pagar a Doyen até 2017. Eu comparo o caso dele com o do Montillo, que veio (em 2013) com uma expectativa grande, não jogou bem em sua primeira temporada e só cresceu nos últimos três meses. Mas o clube vendeu e teve lucro. Temos de chamar ele, conversar, dar oportunidade. Ele é um patrimônio do clube, foi de Seleção. O Santos não pode nem vai perder dinheiro com o Damião – afirmou.

O candidato abordou, ainda, a baixa presença de público nos jogos realizados na Vila Belmiro. Na derrota por 1 a 0 para o Cruzeiro, no último domingo, por exemplo, apenas 4.094 pagantes compareceram ao estádio - foi o pior público do Peixe no Brasileirão. Segundo Nabil, caso eleito, será realizada uma pesquisa para entender a realidade do estádio.

- Para quem tem cadeira cativa, a Vila é um estádio gostoso para assistir jogos, mas para quem frequenta outros setores, há pontos cegos. Temos de fazer uma pesquisa e entender o que é preciso fazer com a Vila. Há alguns detalhes pontuais para quem vem da capital, por exemplo. A pessoa gasta R$ 22,00 de pedágio, mais estacionamento e alimentação. Precisamos entender o que a Vila tem para nos oferecer - comentou.

Nabil Khaznadar é empresário, tem 53 anos e encabeça a chapa “Avança, Santos”, tendo como vice Carlinhos Fonseca, atual vice-presidente do Conselho Deliberativo. Ele foi sabatinado pelos repórteres Antonio Marcos e Bruno Giufrida, do GloboEsporte.com, e Anderson Firmino, do jornal A Tribuna. O entrevistado de terça-feira, às 15h, será José Carlos Peres, da "Santos Vivo".

Nabil Khaznadar  (Foto: João Paulo de Castro)Nabil quer aprimorar a estrutura das categorias de base e fala em manter Enderson Moreira (Foto: João Paulo de Castro)


Confira abaixo os outros tópicos da entrevista com Nabil Khaznadar

Vila elitizada?

 



Com relação a mexer em camarotes, temos que mexer no todo, mesmo porque se for mexer em alguns camarotes térreos, vamos gastar um tempo grande. Não vamos mexer só nos camarotes, mas também onde há pontos cegos. O alçapão era bom, mas infelizmente ou felizmente (a Vila) está daquele jeito e temos que ver o que é melhor. Quem vai nos responder isso é a torcida.

Novo estádio

Pelo que fiquei sabendo e pesquisamos, em Santos não há espaço. Podemos trazer melhorias, seja fazer da Vila um estádio-butique, ou algo próximo à Bombonera. Só consigo enxergar uma arena em São Paulo, não sei se é o melhor caminho. Se o setor privado trouxer proposta e a melhora da Vila entrar na pauta, vamos conversar. Nosso torcedor está em todo o Brasil.

Pacaembu

Podemos arrendar, desde que o clube não tenha ônus. O Santos não vai colocar dinheiro nisso. Queremos chegar a 100 mil sócios e não podemos colocar tudo isso na Vila. E com relação ao Pacaembu, temos de aproveitar melhor, porque cairá no colo da nossa torcida. Não podemos ficar parados. Em março ou abril já teremos programação com jogos em São Paulo para nosso torcedor se programar. E se ocasionar de ter mais de um jogo na capital, jogaremos em Barueri.

Relação entre Santos e Doyen

 


Não vejo grande problema com a Doyen. Foram duas contratações: o Damião e o Lucas Lima. O Santos só pagará a Doyen em 2017, então temos dois anos pra fazer o jogador virar. O Lucas já virou, há interesse do mercado internacional. Não vejo problema, desde que os interesses do clube fiquem acima. Não acho ruim não (parceria).

Relacionamento com a Teisa

A Teisa é um grupo de notáveis santistas que investiram dinheiro no clube há quatro anos. O que a Teisa investiu é retorno de CDI (Certificado de Depósito Interbancário), e esse é dinheiro é bem vindo. E eles tomaram prejuízo, não levaram dinheiro nenhum. Inclusive tiveram prejuízo no negócio do Neymar.

Dívida

A dívida chega a R$ 375 milhões. Mas passivo é uma coisa, fluxo é outra e tem muita gente que confunde. Se o Santos tivesse tanta dívida não teria cinco candidatos. R$ 100 milhões da dívida, por exemplo, é da Timemania. Teve, realmente, a ausência do patrocínio master, e as dívidas de gestões anteriores. Mas acredito que o Santos é um dos clubes que têm menos dívidas. É sentar na cadeira, montar uma equipe, que é o que sei fazer melhor, e trabalhar. Você só fica no azul com títulos e aparecendo na mídia.

Estrutura da base

 


Precisamos melhor a infraestrutura. A da base é precária. Temos de levá-la para um lugar com hotelaria, um lugar mais apropriado. Há uma conversa com a prefeitura para um projeto maior. Trazer jogadores para compor elenco, ficar no banco, mas com altos salários, é algo que não vamos fazer. Vamos investir na base onde temos Gabigols, Cajus, Alisons... Estamos vendo um caminho até social, pegarmos algumas escolas da região e colocar os meninos para estudar. E levar os professores para dentro do CT. Temos uma pessoa muito gabaritada no marketing desenvolvendo esse projeto. O CT da base será apenas para jogadores, comissão e imprensa. Nem empresário. Empresário não tem que estar no CT.

Montagem do elenco e futuro de Enderson Moreira


Não sou de ficar rompendo contrato. Ele (Enderson Moreira) tem contrato até o fim de 2015, e acho que ele não difere dos outros no Brasil. Acho que os técnicos brasileiros estão abaixo do que considero ideal para um clube. Mas ele vai ser mantido, não mexeremos. Vamos ver quem tem contrato, quem encerrará, e montaremos uma equipe. Temos hoje uma espinha dorsal com um goleiro muito bom, um bom zagueiro que cabe em qualquer time, um segundo volante dos melhores e o Robinho. Vamos preencher com jogadores da base, atletas para compor elenco e jogadores que venham para resolver. Queremos aquele jogador cascudo. E o Paulista pode ser um laboratório.

Longevidade do patrocínio

Essa coisa de contrato mais longo é difícil. Que time tem isso? Nossos rivais não têm, a não ser o outro da marginal. Temos de fazer um projeto muito maior. Já estamos falando com algumas multinacionais para algo amplo, e o patrocínio master será uma consequência do projeto, que encampa a Vila Belmiro, o social. Nosso marketing será uma gestão de espelho, com metas.

Comitê de Gestão

 



Esse modelo de gestão é praticamente o do mundo todo. A Europa praticamente toda tem esse modelo. O Santos é um espelho para o Brasil. Sou a favor do Comitê de Gestão. Posso garantir que meu modelo é como sempre geri nas minhas empresas. Você tem que conversar com eles (membros do Comitê) todos os dias, para ninguém ser pego de surpresa.

Relação presidente/elenco

(O presidente) Tem que acompanhar sim. Acho que está faltando um acompanhando um pouco maior. É preciso estar presente com os jogadores, dar a cara, querendo entender, fazer o jogador compreender que há oito milhões de torcedores querendo o time para frente.

Atual gestão

O Santos avançou muito nos últimos cinco anos nessa gestão que assumimos. Três dos cinco candidatos entraram conosco em 2009. Nesses cinco anos, o Santos conquistou seis títulos, foi bicampeão da Copa São Paulo, campeão da Copa do Brasil sub-20, do torneio internacional da África do Sul (sub-21)... Mas precisa avançar mais. O que aconteceu foi a turbulência de um ano e meio atrás, com a saída do presidente (Luis Alvaro pediu licença e depois renunciou ao cargo), a tentativa de impeachment, não sabíamos o que iria acontecer. A turbulência estava grande e foi nesse cenário que o Odílio assumiu. Mas, agora, vamos avançar mais ainda.

Salários atrasados

Tem esse tabu, essa lenda dos salários atrasados... O Santos não atrasa CLT e quando atrasa direitos de imagem é coisa de 20 dias. Salário é uma coisa que não pode atrasar. Vamos tentar ao máximo não atrasar. Salário atrasado gera pessoas descontentes, e isso reflete no ambiente.

Teto salarial?

A gente pretende fazer como na Bundesliga. Se buscarmos um jogador que quer ganhar R$ 200 mil, não vejo problema. Vamos começar com R$ 100 mil e ele vai ter que dar retorno com passe para gol, marcando gols, chegando à Seleção... O caminho é esse. Quem tem contrato vai seguir com o contrato. Isso que falo é para o novo modelo e já estamos conversando com os jogadores que terão que renovar com o contrato.