Esportes Escândalo na Fifa

Reeleito mas desgastado politicamente, Blatter tenta sobreviver a investigações

Presidente da Fifa teve voto do Brasil a seu favor. Ele enfrentará forte oposição nos próximos anos
O presidente da Fifa, Sepp Blatter, ganhou o quinto mandato como presidente da Fifa Foto: Fadel Senna / AFP
O presidente da Fifa, Sepp Blatter, ganhou o quinto mandato como presidente da Fifa Foto: Fadel Senna / AFP

Joseph Blatter, como se diz no boxe, sobreviveu ao primeiro e ao segundo assalto. Dois dias depois da operação do FBI e da polícia suíça que prendeu sete dirigentes da Fifa durante o congresso da entidade, em Zurique, mas ainda não envolveu seu presidente, o dirigente, de 79 anos, foi reeleito para mais quatro anos de mandato, vencendo o príncipe Ali Bin Al-Hussein, da Jordânia, por 133 votos contra 73.

A vitória não significa vida tranquila para Blatter daqui para frente. Com declarada oposição das confederações europeias, o presidente da Fifa manteve os votos de seus principais colégio eleitorais, formados em grande parte por países periféricos do mundo da bola.

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Depois da prisão do ex-presidente José Maria Marin e da repentina volta ao Brasil do presidente Marco Polo Del Nero, a CBF foi representada na votação pelo presidente da Federação Cearense, Mauro Carmélio. Em Zurique, ele contou que o voto brasileiro foi para Blatter.

— Blatter tem grande experiência, um carinho pelo futebol brasileiro, o torcedor conhece o trabalho. Portanto, o Brasil está bem servido. Tanto com o Blatter, tanto como estaria com o príncipe — disse Carmélio ao site "Globoesporte.com".

DESGASTE POLÍTICO

Com o mandato renovado, Blatter terá de se preocupar em não ser atingido pelos desdobramentos das investigações em curso. Responsável pela prisão de seus pares, a ofensiva da Justiça e da polícia dos Estados Unidos prosseguirá. De outra parte, a Justiça da Suíça também tem investigações sobre a Fifa em andamento. Na véspera da votação, o próprio Blatter admitira que “outras más notícias para a Fifa devem surgir em breve”.

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Politicamente, seu desgaste é maior do que nunca. Há dirigentes do futebol europeu que defendem que os recentes escândalos abriram a oportunidade para que a Uefa se desassocie oficialmente da Fifa. O presidente da confederação europeia, o ex-jogador francês Michel Platini, preferiu uma declaração comedida após o resultado. O bloco europeu votou em peso no adversário de Blatter.

— Estou orgulhoso de que a Uefa tenha defendido e apoiado um movimento de mudança na Fifa. Mudança que, na minha opinião, é crucial se este organismo quer recuperar a sua credibilidade — declarou Platini em nota.

O ex-jogador português Luís Figo, que era candidato à presidência da Fifa, mas retirou seu nome, na semana passada, com críticas ao processo da eleição, foi bem mais duro:

— É um dia negro em Zurique. Se o senhor Blatter estivesse minimamente preocupado com o futebol, teria desistido desta reeleição. Se ele tiver um mínimo de decência, renunciará nos próximos dias — atacou Figo. — Ou ele conhecia e tolerava todos os atos de corrupção e tráfico de influências ou, se não sabia, como disse, é porque não tem a capacidade de liderar a Fifa. Perante tantas evidências, o fato de o responsável máximo pela Fifa ter chegado ao ponto de ter sido reeleito mostra como a organização está doente.

Em seu discurso após a vitória, Joseph Blatter prometeu que será seu último mandato à frente da Fifa, e se referiu apenas indiretamente aos recentes escândalos de corrupção:

— Eu assumo a responsabilidade por trazer a Fifa de volta. Estou convencido de que faremos isso. Sou um homem persistente. Disse a vocês, gosto de vocês, gosto do meu trabalho, gosto de estar aqui. Não sou perfeito, ninguém é. Então, eu agradeço. Prometo a vocês: no fim do meu mandato, darei a Fifa ao meu sucessor em uma posição muito forte. Uma Fifa que terá saído da tempestade.